quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Dos olhos

E quando as coisas acontecem, acontecem. E aprendeu isso de uma maneira tão bonita: com um dar as mãos envergonhado; ou o virar de bocas para selar o beijo que queria há tempos. Ou oferecendo a cerveja na tentativa de deixar as coisas mais fáceis. Mas aprendeu principalmente olhando nos olhos.

Olhos sempre são tão mais fáceis de admirar. E não porque sejam a janela da alma - isso é clichê -, mas porque possuem tons. Alguns, inclusive, têm pintinhas castanhas misturadas a um verde que deveriam ser proibidos de tão bonitos.

Esses mesmos olhos são donos das mãos macias, dos cabelos cacheados descobertos recentemente em uma foto antiga. Estes mesmos olhos - que às vezes são de ressaca no sentido literal da palavra - sabem quando um suco não foi feito à hora do pedido. São olhos que têm paladar.

Como queria que esses olhos se vissem como eu os vejo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

terror noturno 2

quando ainda tenho meus pesadelos recorrentes - ainda, sempre, toda vez- espero o abraço de alguém fazendo o choro passar. e quando eu mesma tenho de acalmar, quando eu mesma tenho de lembrar que, se não for por mim, os gritos ainda hão de continuar, há um desespero que me parte a alma.

me parte a alma tudo o que tá acontecendo. me parte a alma ainda ter pena de mim. me parte a alma mudar meus planos quando não fui nem eu mesma quem acabou com eles. doença, maldita doença. família. maldita família.

eu sei que, mesmo você não me vendo - ou mesmo você não me lendo -, ainda continuo fazendo parte da sua vida. paciência para você, paciência para mim. o que me dói - e acho que haverá de doer por muito tempo - é ver você se acabar quando eu o vi tão completo. é ver que nem sempre quem o gerou é do bem. e, principalmente, ver que eu tentei de tudo e foi em vão. tentar de tudo e mesmo assim não ter o retorno é simplesmente frustrante. estou frustrada.

continuo com meus pesadelos permeados de insônia. não sei até quando. não sei se quero viver tudo isso de novo. mas, enquanto isso, encaro meus pesadelos. os que você deixou e os que não me deixam dormir. na verdade, acho que eles são os mesmos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ao som de Bach

Ária na corda Sol. É um título lindo, sonoro, tanto quanto a música de Bach. Sempre gostara deste som, mesmo sem saber o que significava, ou para quem tinha sido feito, ou até mesmo se havia algum destinatário para a melodia. Era uma música linda, e pronto.

Gostava desde a infância. A mãe achava que era algo triste. "Isto é triste, tira isso!". Não via tristeza. Ou até mesmo chegava a ver, mas não compartilhava desta tristeza. Em certas ocasiões, percebeu, há beleza na tristeza.

Chegou a pesquisar sobre quem já havia utilizado a música. Opa, apareceu naquele anime que ela gostava. O primeiro que havia visto. Sabia que a recordação não era fingida: havia um quê de história - nem que fosse da própria - naquele sentimento todo por uma melodia que não teve acesso na infância. Aliás, a título de interesse não tão interessante, sons clássicos não eram de fato ouvidos em sua residência.

Voltou à pesquisa: teve aquele guitarrista, também, que ela gostava. E a música tava no MP3 do simulador de voo espacial. Aquele. Foi sim.

Mas o fato importante foi quando ela tava na casa dele - do moço da fala bonita, de sorriso bonito e de espiritualidade bonita - e ele pôs uma canção. "Tô te sentindo desconfortável aqui na sala, vamos ao quarto". Segue o medo e a vontade. Medo e vontade. Medo e vontade.

E olha, ele não aparentava nenhum objeto de perigo. Não era como aquele cara que sofria de efebofilia, ganhador de notoriedade por ter participado do reality show; e ela também não era mais nenhuma menina de 12 anos. Inclusive, some bastante idade. Não haveria de ter medo. "Pelo menos não ouvirei algo que me deixe sem graça. Ele é músico. Tem bom gosto", pensou. Obviamente que nunca disse aquilo a alguém, muito menos ao rapaz da fala bonita.

"Vou por uma música que eu gosto", disse o moço, após insinuar - e acertar - o gosto musical da mulher. E, adivinhem só como o destino é bonito: era Ária na corda sol. Ele até chegou a comentar que o grupo do CD em questão fazia os próprios instrumentos, e ela se sentiu triste por saber que aquela cultura toda não tinha divulgação.

E ele a beijou. Logo após a sentença dela. De surpresa. Como ela  gostava e como a música pedia.

Não foi como beijar-se a si mesma, como acontecera anteriormente, com outro rapaz mais bobo e em outra ocasião. Foi como beijar a própria música e, nossa, como ela sonhara com aquilo um dia. Beijar algo abstrato, algo que não se pode ter em mãos.

Ela conseguiu, afinal de contas. Beijara Ária na corda sol. Beijara Bach.Beijara o moço da fala bonita e espírito mais bonito ainda. Estava contente. Ele não precisava ligar, já tinha completado a missão.

    terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

    Terror noturno

    Dói saber que nunca mais vou te ver. Juro que penso nos bisturis que usava à epoca da outra faculdade pra cortar com mais precisão e observo um melhor uso para eles. Em mim. Em ti.

    Lembro dos sonhos que traçamos, até que a doença veio e tirou. Não sei o quanto disso é justo. Não sei se aguento.

    Penso de novo nos bisturis e.... Naaaaa

    segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

    Pecado

    Penso no momento que dizem que o arco-íris é a aliança do Pai com os filhos.

    Ele deve tá puto comigo.