quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

olhos nos olhos

Sabia que conseguiria viver sem o abraço de boa noite, ou sem o beijo da manhã. Sabia que podia ficar sem dar as mãos e estava completamente pronta para seguir em frente. Há pouco pensara que havia entregado os pontos, que não aguentava mais viver sem os pelos dele. Os pelos sempre farão dele um ser diferente e, por aqueles cabelos espalhados pelo corpo, ela haveria de amá-lo o resto da vida.

Amar pelo resto da vida, no entanto, não significa deixar de viver. Haveria de deitar-se com outros homens, com um quê de Chico Buarque, pensando que quando ele pudesse revê-la, já haveria de encontrá-la refeita, e complementando ainda com uma frase que deixaria qualquer homem fora dos prumos. "Quantos homens me amaram bem mais e melhor que você!". Ela sabia, ainda, que a casa seria sempre dele, apesar de tudo.

Podia sentir o vento no rosto, abandonar as pilhas de panelas e talvez lavar a roupa suja encostada. Já podia pensar em viver de novo. Sozinha, amando a si mesma. Completamente apaixonada pelo seu próprio corpo. Seria estranho no início, mas ninguém disse que viver era algo demasiado fácil.

2 comentários:

  1. E esse nosso vai e vem desgovernado, entre ser dono de si e ter no outro um dono também. Ah, os pelos, a pele, o encostar...

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  2. E esse nosso vai e vem desgovernado, entre ser dono de si e ter no outro um dono também. Ah, os pelos, a pele, o encostar...

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