domingo, 27 de julho de 2014

da revolta

Cavalos me dão medo. Sério. Não consigo chegar perto desde criança. Assim como tenho medo de papai noel, e de palhaço. Ai, nem quero pensar em palhaço. Mas hoje o medo de cavalos virou compaixão, virou desespero, virou apelo, virou tudo.

Fui cobrir a Cavalgada 2014, evento tradicional aqui em Rio Branco. É bonito e - acreditem, tem muita gente bonita. Na década de 1970, no governo de Wanderlei Dantas, houve uma grande divulgação do Acre e, com isto, uma intensa imigração de pessoas do Sudeste e Sul. À época, eram chamados pejorativamente de "paulistas", por segundo algum mais conservadores da cultura local, estarem tirando nossas tradições. Mas isso não vem ao caso. Não vou nem entrar no mérito da flora, porque aí daria muito pano para manga, para brigas partidárias e isso realmente me cansa um pouco a mente. Quero falar de uma das minhas maiores lutas: os animais.

A tal cavalgada reflete bem a cultura dos sulistas, o amor pelo sertanejo, o quanto respeitamos e aderimos hoje aquilo que ontem rejeitamos. Toma, Acre! De novo, isto não vem ao caso. O fato é que, ao fazer uma matéria sobre o evento, o que começou bonito - mais uma vez, um bando de gente diferente, com olhos azuis e cabelos claros andando pra lá e pra cá com berrantes e botas e roupas justas - não pude imaginar como seriam tristas as notícias que teria depois. Vi imagens de cavalos - que até então imaginava serem amados pelos fazendeiros que trouxeram essa cultura tão bacana para o Estado - tendo a língua cortada para poderem levantar por desnutrição. Vi surras e gente bêbada brincando com os bichos. E esporas, quantas esporas!

Não entendo para qual motivo vocês colocam chapéu e botaS de cowboy se não entendem o real sentido da cultura toda. Vestem-se de algo que não gostam apenas pela beleza do que não sabem, ou do rítmo que gostam de dançar. Aprendam, por favor! Sintam-se na pele do outro, mesmo que sejam cavalos. Imagem-se sendo expostos, com sol a pino, com sons alucinantes, e com mais de três pessoas no seu lombo. Bêbadas.

Imaginem-se na pele do outro, pelo menos uma vez. E sejam menos hipócritas. Com vocês mesmos.

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