quinta-feira, 7 de agosto de 2014

da aceitação

quando criança, era chamada de diferente pela família. não era nem aquela resposta dada, de que "possui uma beleza exótica". o título dado à garota era o de "feia", "escura", seguido de um comentário clássico: "sua prima é mais bonita que você".

por muito tempo, tentou ser aceita. tirava as melhores notas, era aluna modelo. mas de que adianta um bom histórico escolar se, infelizmente, ela nasceu com cara de índia. isso era uma vergonha para a família: ter alguém de olhos rasgados era extremamente constrangedor. "Imagine só, essa indiazinha é minha neta. nem parece ter meu sangue".

talvez não tivesse mesmo o sangue deles. talvez fosse alguém que apareceu de surpresa, numa família que não a aceitava, apenas para aprender. como uma flor de lótus que, para nascer mais bela, precisa de um pântano. o pântano era família. a flor, a força de vontade.

decidiu, portanto, que não faria mais parte desse parentesco. nunca fora aceita, nunca fora amada. então, para quê as mentiras, não? fingir que gosta não dá mais certo. amar obrigado não é saudável.

então, ela mudou de sobrenome, se aceitou como diferente, e seguiu feliz. para quê usar um nome conhecido, de uma família conhecida, se você nunca fez parte dessa família? não vale a pena. nomes são apenas nomes, e um dia você tem de deixar de usá-los. pelo seu próprio bem.

seguiu em frente, com todo um amanhã a descobrir e um mundo novo a sonhar. sem problemas. terá a própria família. indiozinhos, também. e sem o sobrenome maldito.


Um comentário:

  1. Tô orgulhosa de você amiga, força e continue seguindo em frente de cabeça erguida como sempre!

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