sexta-feira, 20 de março de 2015

pisca-pisca



"EMÍLIA: A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isso é, começa a piscar. Quem para de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda , dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. É portanto um pisca-pisca.
VISCONDE: E depois que morrer?
EMÍLIA: Depois que morrer vira hipótese. É ou não é?
VISCONDE: Sim, creio que esteja certa..."



Nunca achei que uma peça de teatro infantil fizesse tanto sentido. E eu não gosto do Monteiro Lobato. Ok, ok, ele é um grande nome da literatura, e bla bla bla, mas não gosto dele. Chamar uma escrava de negra beiçuda não é algo muito infantil, na minha opinião, mas acredito que, neste ponto, Lobato acertou em cheio. O que é a vida que não pisca-pisca, não é? Isto vale tanto para o sono, quanto para o trabalho, quanto para os relacionamentos. Tudo pisca e, às vezes, apaga.

O mundo dá o ar de sua graça ao piscar. Ele pisca como se tudo fosse Nova Iorque em época de Natal. Com seus sinos, suas luzes, seus encantos e suas memórias. Sim, memórias. A gente lembra de quando era criança, quando era adulto, e até de quando não foi nada. O pisca-pisca traz à tona o que não existe. O dorme-e-acorda diário. Até que um dia dorme, e não acorda mais.

Até que viraremos uma hipótese.

Isto, não é de todo ruim. Quem não quer se tornar uma hipótese? Hipóteses são boas. Hipóteses, até certo ponto, explicam, e precisamos de explicações. Explicações nos trazem confiança, nos trazem clareza, nos trazem um quê a mais de intensidade.

Acho que quero ser uma hipótese. E aceito que a vida seja um eterno pisca-pisca

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