quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ao som de Bach

Ária na corda Sol. É um título lindo, sonoro, tanto quanto a música de Bach. Sempre gostara deste som, mesmo sem saber o que significava, ou para quem tinha sido feito, ou até mesmo se havia algum destinatário para a melodia. Era uma música linda, e pronto.

Gostava desde a infância. A mãe achava que era algo triste. "Isto é triste, tira isso!". Não via tristeza. Ou até mesmo chegava a ver, mas não compartilhava desta tristeza. Em certas ocasiões, percebeu, há beleza na tristeza.

Chegou a pesquisar sobre quem já havia utilizado a música. Opa, apareceu naquele anime que ela gostava. O primeiro que havia visto. Sabia que a recordação não era fingida: havia um quê de história - nem que fosse da própria - naquele sentimento todo por uma melodia que não teve acesso na infância. Aliás, a título de interesse não tão interessante, sons clássicos não eram de fato ouvidos em sua residência.

Voltou à pesquisa: teve aquele guitarrista, também, que ela gostava. E a música tava no MP3 do simulador de voo espacial. Aquele. Foi sim.

Mas o fato importante foi quando ela tava na casa dele - do moço da fala bonita, de sorriso bonito e de espiritualidade bonita - e ele pôs uma canção. "Tô te sentindo desconfortável aqui na sala, vamos ao quarto". Segue o medo e a vontade. Medo e vontade. Medo e vontade.

E olha, ele não aparentava nenhum objeto de perigo. Não era como aquele cara que sofria de efebofilia, ganhador de notoriedade por ter participado do reality show; e ela também não era mais nenhuma menina de 12 anos. Inclusive, some bastante idade. Não haveria de ter medo. "Pelo menos não ouvirei algo que me deixe sem graça. Ele é músico. Tem bom gosto", pensou. Obviamente que nunca disse aquilo a alguém, muito menos ao rapaz da fala bonita.

"Vou por uma música que eu gosto", disse o moço, após insinuar - e acertar - o gosto musical da mulher. E, adivinhem só como o destino é bonito: era Ária na corda sol. Ele até chegou a comentar que o grupo do CD em questão fazia os próprios instrumentos, e ela se sentiu triste por saber que aquela cultura toda não tinha divulgação.

E ele a beijou. Logo após a sentença dela. De surpresa. Como ela  gostava e como a música pedia.

Não foi como beijar-se a si mesma, como acontecera anteriormente, com outro rapaz mais bobo e em outra ocasião. Foi como beijar a própria música e, nossa, como ela sonhara com aquilo um dia. Beijar algo abstrato, algo que não se pode ter em mãos.

Ela conseguiu, afinal de contas. Beijara Ária na corda sol. Beijara Bach.Beijara o moço da fala bonita e espírito mais bonito ainda. Estava contente. Ele não precisava ligar, já tinha completado a missão.

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