terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Da carta ao pai

Ainda recordo o dia fatídico em que o senhor disse que iria embora. Foi um adeus simples, daqueles que a gente engole pra não chorar, ou que nem tem vontade de chorar, ou que simplesmente não importa. Escrevo-lhe pra contar como anda minha vida hoje.

Bom, deixei de gostar de livro infanto-juvenis. Meus autores preferidos hoje são Kafka e a Emile Bronte. Sim, meu gosto tornou-se um pouco mais refinado, talvez porque tenha crescido.

Tenho uma cicatriz grande no cotovelo, o senhor nao a conhece. Foi quando cai numa das apresentações que o senhor nunca viu.

Minhas pernas têm marcas da época da depressão. Não uso saias porque tenho vergonha. Mas mamãe, muito bondosa, já comprou-me um bom remédio que dizem que é muito bom. Tem de ser, pelo preço.

Cortei meu cabelo. Lembra-se que toda vez que o cortava o senhor sentia raiva de mim, dizendo que os cabelos são o véu da mulher? Pronto, livrei-me desse véu inexistente e cortei-lhes. Como há mais de dois anos o senhor não me vê, não sabe a altura que eles se encontram, portanto resolvi contar.

O último filme que assisti foi Viagem a Darjeeling. Achei engraçado. Lembrou-me da vez que todos viajamos à praia, e o senhor tirou aquela foto de sunga verde-limão. Não que o filme se passe em uma praia, se passa na Índia, mas lembrou-me de alguma forma.

Larguei a faculdade que o senhor queria que eu fizesse e hoje escolhi o meu destino. Eu sei que não foi de seu total agrado, mas estou me virando bem. Encontro-me feliz na profissão que escolhi. Eu sei, qualquer um pode seguir tal carreira, mas preferi fazer faculdade antes para segui-la de forma próspera.

Então, faz onze anos que não dormimos sob o mesmo teto, não durmo mais em seu quarto, relaxe. Vovó resolveu passar mal e veio morar conosco. Ela não o suportaria, assim como não me suporta, então você está melhor que eu.

Notícia minhas.

Até mais

*Inspirado em "Carta ao Pai", do kafka

Um comentário:

  1. Inspire-se em coisas alegres, vibrantes, e não em um cara preso a pensamentos tristes. Não conhecemos o outro lado, então vamos aproveitar o lado de cá o máximo possível!

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