terça-feira, 18 de outubro de 2011

devaneando


Enquanto eu estava em frente ao meu trabalho, descansando um pouco, pensando no que devo fazer ou deixar de fazer, passou um senhor que me chamou atenção. Ele era alto, lá pelos seus setenta anos de idade, com um chapéu de palha.

Ok. Imaginei como seria a vida dele. Não tenho lá o direito de imaginar a vida de alguém mas decidi ir em frente. Talvez ele fosse um senhor sofrido, o ar não escondia. As roupas amarrotadas mostravam que, no mínimo, ele já fora muito injustiçado.

Devia ter alguns filhos. Contei cinco em minha cabeça. Cinco filhos. Um trabalhava na roça, a outra devia ter mais cinco filhos. Um deveria ser carpinteiro, ou jardineiro. O que se dera bem hoje devia ser funcionário público, mas este, ah, este não ligava muito para o pai. Decidira viver sem que tivesse vida passada.

A mais nova ainda não tinha idade para morar só. Mas já contava com um futuro amante. Ajudava em casa, ajudava a mãe, cuidava dos cachorros e da comida. Da pouca comida. Todo dia era só feijão com arroz. Feijão com arroz. Feijão, feijão. Arroz, Arroz.

Já falei que o velho deveria ter um pequeno pedaço de terra doado a muito custo pelo INCRA? Não? Pois é, ele tinha um pedaço de terra doado a muito custo pelo Incra. Isso tudo depois de ter ficado em frente ao estabelecimento por dois dias. Dois dias comendo feijão com arroz frio. Sem ter onde tomar banho.

Você já percebeu que você acha que tem problemas demais? Os seus problemas são sempre maiores. Quando eu olhava pra aquele velho, imaginando sua vida pacata, louca para mim, pensei em quanto joguei fora meu tempo pensando que as minhas prioridades eram maiores prioridades que os outros.

Aí, quando o velho já tinha passado, eu percebi o quanto eu era mesquinha, e o quanto as pessoas ao redor são mesquinhas. Você já pensou que tem alguém pior que você e que você não faz nada pra ajudar?

2 comentários:

  1. Os melhores escritos e acontecimentos na vida da gente são trazidos por coisas simples, sentimentos simples nas pessoas que nos despertam para uma gama de pensamentos que nos tornam melhores e com vontade de mudar o mundo. Tendo escrever nessa linha e fico feliz que você também.

    Bjão Anne Danoninho. ♥ kkkkk

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  2. Excelente expressão, Anzol! Quem dera que todos pudessem ter a mesma sensibilidade e perceber o mundo ao ser redor. Ser gentil, ser sensato. Parabéns pelo texto.

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